Por Fênix Rosa
Não sei dizer exatamente quando foi que desmoronei.
Talvez não tenha sido de uma vez, talvez tenha sido em pedaços pequenos, diários, silenciosos.
Aqueles que a gente varre para debaixo da alma achando que o tempo resolve — e não resolve.
Tem um momento na vida em que tudo parece suspenso.
Você olha ao redor e não se reconhece mais.
As roupas servem, os hábitos continuam, o mundo gira, mas por dentro… é como se tivesse parado.
Foi ali que me vi cinza. Sem brilho, sem forma, sem rumo.
E não, não era bonito.
Não era romântico como nos filmes.
Era cru. Era escuro. Era um não-saber do tamanho do mundo.
Mas, curiosamente, é nesse vazio que a mágica mais silenciosa acontece.
Sem plateia. Sem aplausos.
Só você, seus cacos e uma vontade estranha, quase insolente, de continuar.
Renascer não é um ato espetacular.
Não acontece de repente, nem com música de fundo.
Renascer é acordar um dia e sentir que o ar parece menos pesado.
É fazer a cama. Lavar o rosto. Abrir a janela.
É se permitir recomeçar… mesmo com medo.
Eu renasci no meio do cotidiano.
Enquanto tomava um café que já esfriava.
Enquanto pegava um ônibus lotado.
Enquanto ouvia uma música antiga que, de repente, fez sentido de novo.
E percebi que renascer é isso:
É se reconstruir onde antes só havia ruína.
É descobrir asas onde antes só havia cinzas.
É seguir, mesmo trêmulo, sabendo que dentro de nós mora um fogo que jamais se apaga.
Talvez seja isso que me torna o que sou:
Alguém que, mesmo ardendo, aprendeu a voar.