Outro dia, entre um café amargo e um e-mail urgente, percebi que não lembrava a última vez que olhei alguém nos olhos sem a intermediação de uma tela. Estávamos todos ali — na fila da padaria, no trânsito, na reunião online — conectados… mas famintos.
Famintos por toque, por pausa, por conversa que não precise de emoji. A internet nos aproximou de quem está longe, sim — mas, ironicamente, afastou a gente de quem está aqui do lado. Do abraço morno. Do silêncio compartilhado. Do tempo que não precisa ser cronometrado por notificações.
Hoje, confundimos produtividade com presença. E esquecemos que estar presente é mais do que estar disponível. É mais do que responder rápido. É escutar devagar. É notar quando o outro suspira — não porque está sem fôlego, mas porque está cansado de não ser notado.
A vida virou feed. Rolamos pessoas como quem folheia um cardápio. Curtimos com o polegar, mas sentimos com o vazio. Nos vendem a ideia de que podemos tudo — menos parar. E, quando paramos, ficamos sem saber o que fazer com o próprio silêncio.
Eu, que gosto das entrelinhas, sinto falta das pausas. Das conversas que duram mais do que uma bateria. De olhar o céu sem pensar em postar. De sentir que estou vivendo, mesmo que ninguém esteja vendo.
Quem sabe a gente reaprenda. Quem sabe desligar seja o novo luxo. Quem sabe, um dia, a conexão mais valiosa volte a ser entre dois corações… e não dois dispositivos.
— Fênix Rosa
Com o fogo brando da saudade e a leveza de quem observa o mundo do alto...