Corações Errantes

Capítulo três: Caminhos Errantes

O vento soprava forte, carregando consigo as cinzas de um amor desfeito.

Kael nunca imaginou que as palavras que proferira naquela noite maldita continuariam a ecoar dentro dele como um lamento eterno. O baile de máscaras ficara para trás, mas as consequências de sua traição o perseguiam a cada passo. Lyria fora levada, e com ela, qualquer resquício de esperança que ainda restava em seu coração.

Enquanto o príncipe tentava enterrar seu amor proibido, a feiticeira caminhava pelas sombras do exílio. E o destino, impiedoso como sempre, já traçava os fios que entrelaçariam suas vidas mais uma vez.

A noite nunca fora tão fria.

Lyria puxou a capa esfarrapada ao redor dos ombros, sentindo a umidade gélida das terras selvagens penetrar sua pele. O exílio lhe roubara tudo — seu lar, seu amor, sua esperança. Mas deixará algo em troca: uma fúria ardente que queimava em seu peito, alimentando sua magia como nunca antes.

Ela vagara sem destino até encontrar os Círculos Ocultos, refúgios de feiticeiros renegados que se escondiam nos ermos do mundo. Ali, onde a lua era a única testemunha e o vento sussurrava segredos proibidos, Lyria aprendeu a transformar sua dor em poder. Cada feitiço conjurado era uma cicatriz vingada, cada encantamento murmurado, uma lembrança da traição que sofrera.

Seu coração, no entanto, ainda doía — uma ferida que nem a mais sombria das magias poderia curar.

Enquanto isso, no coração de Valleria, sombras se espalhavam como veneno.

O rei Adrian Valerys fora envenenado. O veneno consumiu sua vitalidade pouco a pouco, até que uma noite, sob o esplendor de um céu sem estrelas, seu corpo esfriou no trono. A coroa, então, caiu nas mãos erradas. Intrigas palacianas se multiplicavam como serpentes no escuro, e os nobres se dividiam entre lealdade e traição. O reino, antes imponente, agora oscilava à beira do colapso.

Kael Valerys sufocava sob o peso da culpa e do dever. Seus pesadelos eram povoados pelos olhos prateados de Lyria e pelas palavras que nunca deixavam sua mente:

"Que sua alma sinta a ausência como uma lâmina cravada no peito..."

Ele via o reino desmoronar diante de seus olhos, mas seu coração já estava em ruínas. O príncipe, que um dia fora o orgulho de Valleria, agora não passava de uma sombra de si mesmo.

E, enquanto Kael tentava enterrar um amor proibido e Lyria se erguia das cinzas do exílio, outros corações errantes vagavam pelo mundo, prontos para se entrelaçar nessa história de redenção e vingança...